Quem pode se sentir mal com o corpo que tem? | Adriana

Hoje durante uma conversa, tive um momento de raiva misturada com frustração. Todos nós sabemos que falar com pessoas pode ser complicado. Isto porque todos temos visões diferentes do mundo e de nós próprios. O tema da conversa começou porque eu mostrei um vídeo à pessoa de uma rapariga a fazer "spoken poetry", ou seja, poesia falada. O vídeo é este aqui. Eu disse que achava muito correto e bom ver pessoas a serem positivas e procurarem dar conforto a outros. Enquanto que a pessoa em questão, achou que era egoísta o facto de pessoas magras dizerem que devemos gostar do nosso corpo porque elas não sabem o que é sentir-se mal "a sério" com o corpo que se tem. A meio da conversa ela disse que apenas falava das raparigas que mandavam a frase 'estou gorda!' ao ar só porque sim, e que no entanto não eram gordas e não tinham sensibilidade pelas pessoas que naturalmente o eram.

Eu estive sempre a discordar dela. Pessoalmente, acho que todos temos o direito de nos sentirmos mal. É verdade é que as pessoas com peso a mais, especialmente as mulheres, são esmagadas pela sociedade. E é transparente a maneira como as mulheres são olhadas de lado se tem um pouco mais de curvas ou se são mesmo acima do peso "normal". Muitos nem olham para elas como mulheres, e quando digo muitos, falo de pessoas. Não o sexo masculino em particular. Mas não consigo deixar de pensar que se torna egoísta afirmar que se na nossa perspectiva alguém é magro, essa pessoa então não se deveria sentir mal com o corpo dela ou pensar que é gorda. Nem que é normal sentir-se mal pela barriga que tem ou as pernas que tem, apenas porque nós, na nossa cabeça, achamos que a pessoa é magra. Um pouco egoísta, não? Na minha opinião, é. Incluindo que muita gente pode-se sentir magro demais, e normalmente essas pessoas são gozadas porque «ninguém se sente magro demais». O que é uma ideia completamente errada.

Este é um tema que me é um pouco frágil, passei por algumas fases na minha vida das quais não tenho o maior orgulho, no entanto foram fases que me ajudaram a ter uma visão que não é necessariamente negativa, ainda que já a foi. Existem dois caminhos que se podem tomar quando já se foi gozado pelo o corpo que se tem : 

1. Ou as pessoas se tornam frustradas por terem sido gozadas e não conseguem abrir mão para serem optimistas, acabando por se mandar sempre abaixo e muitas vezes as pessoas que os rodeiam, porque simplesmente não conseguem ver o lado bom em nada. 
2. Ou tornam-se pessoas que tentam nunca mais deixar que alguém sinta o que eles sentiram. E que tentam espalhar positividade por toda a gente.

Claro que devem haver mais opções mas de momento só sei destas. 

Continuando, a conversa teve o seu avanço e eu fui explicando que nos devemos sentir bem por nós, não pelos outros, mesmo que a sociedade nos diga que não nos devemos sentir assim. Será que vale a pena lutar quando a sociedade diz que apenas os números baixos são bonitos? A resposta é claro que sim. Não por ninguém, não porque queremos agradar alguém, não porque queremos dar um chuto e mandar abaixo as raparigas magras! Mas sim porque alguém tem de lutar por cada um de nós. E esse alguém somos nós próprios. 

Todos têm direito de se sentir bem com o corpo que têm, simplesmente porque é o seu corpo. Todos têm o direito de se olharem ao espelho e sorrirem porque gostam do que vêm.  Sejam estas pessoas magras, com curvas, gordas, altas, baixas, etc. Ninguém te pode dizer que não te podes sentir mal com o corpo que tens mas tu deves sempre lutar para te sentires bem contigo próprio. Estejas ou não dentro do padrão que existe. Apenas por ti, apenas porque és tu e mais que ninguém tu deves amar-te a ti próprio. Porque o teu corpo merece amor vindo de ti. E a confiança e 'self-love' é das coisas mais bonitas que existe.