Uma carta para o nosso Espelho
Querido Espelho,
escrevo-te esta carta em honra de todos aqueles que, como eu, nem sempre gostam de olhar para ti. Não posso negar que apenas nos mostrar a verdade. No entanto, nós tendemos a não querer a verdade, mas não achas que nos podias mostrar mais?
Pode parecer um pensamento egoísta, realmente o é. Nós devíamos ser capazes de ver o quão enigmáticos e complexos somos como seres humanos e mais que ver, devemo-lo saber. Não só o aspeto como é claro, mas também como somos como pessoa. Devíamos saber as nossas qualidades. Os nossos pensamentos, as nossas forças. Eu sei. Nós devíamos ser os primeiros a poder dizê-lo sem precisar que outra pessoa alguma nos mostrasse daquilo que somos capazes. E não nos ficarmos apenas pela imagem do pacote que nós demonstramos. Muitos de nós não tem essa capacidade. Acabamos por ficar com filtro de pessoa ideal nesta sociedade que é a nossa.
Acaba por ser como se víssemos com miopismo ou com nuvens perante os olhos, onde:
a barriga tem de desaparecer, a celulite é um pecado mortal, o cabelo está demasiado curto, ou se calhar demasiado longo. Não se tem músculos suficientes, não se tem rabo, ou tem se a mais. Os braços abanam quando dizemos adeus e os olhos ou são demasiado pequenos, ou grandes demais. Os dentes não são brancos suficientes e o peito, podia ser maior. Existe sempre algo a mais do que é suposto e algo a menos do que se queria.
Falta, no entanto, existir a possibilidade de nos podermos ver ao espelho e vermos o quão inteligentes somos, o quão bom gosto temos em música ou em literatura. O quão amamos a nossa família ou o quanto somos dedicados aos nossos amigos. O quanto a arte nos enche de alegria e como nós, com o nosso talento, enchemos uns quanto outros de sonhos. A importância que tem quando sorrimos à nossa vizinha que fica grata por termos dedicado um pouco do nosso tempo a desejar-lhe um bom dia.
É verdade que nos poderias mostrar isto também, e não ficar apenas pelo aspecto. Mas também é verdade que tu não nos deves nada e cabe-nos a nós poder ver mais além daquilo que tu nos mostras. É egoísta pedimos-te que nos mostres mais. E antes de responderes à minha pergunta, deixa-me agradecer-te primeiro, porque tornares esta viagem de autoconhecimento muito mais divertida, muito mais entusiasmante. Se nos mostrassem tudo, qual seria a piada? É entre medos e inseguranças que podemos aprender a encontrarmo-nos, a amarmo-nos e a ser humildes. Por isso, se há alguma coisa que eu tenho a dizer-te é obrigada. Um dia vou olhar para ti, com tanto amor e carinho e respeito e nesse dia, sorrirás de volta para mim.
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