O porquê do dia 5 de Outubro ser tão importante

Hoje é o dia cinco de Outubro, celebra-se a implementação da república em Portugal que foi no dia 5 (como é óbvio) em 1910. Um dia histórico na construção deste país. Este ano, ganha ainda assim uma maior importância visto que as eleições autárquicas aconteceram à menos de uma semana. Não foi tão catastrófico como foi o caso das eleições para presidente de Portugal, mas ainda assim, considero um completo desastre o facto de por volta de 45% da população não ter votado. 



Faz hoje 117 anos desde que a população portuguesa pode escolher livremente quem está no poder e quem, por sua vez, impõe as regras e regula a economia. Há 117 anos que Portugal tem na sua mão o poder da democracia, e mesmo assim, há 117 anos que os portugueses preferem não saber. Apenas sabendo como falar mal daqueles que governam na tasca do José Manel, porque mais fácil que ir votar é mesmo ir beber uma 'jola'. No meio destes 117 anos houve uma ditadura, estivemos na mão de um homem que não tinha palmos a medir, Salazar. Um homem e um governo que terminou com a liberdade de expressão que tinha sido obtida após a implementação da república, e que estragou por completo a qualidade de vida dos próprios portugueses. Não se pode negar, como é claro, que ele foi um homem muito inteligente e que realmente fez grandes progressos económicos para o país, mas hoje, não estou aqui para falar sobre Salazar ou sobre o bem e o mal que ele fez. A sua menção vem a propósito da revolução de Abril, outro dia que é celebrado neste país. Dia que mais uma vez os portugueses tiveram acesso à sua liberdade, e desde então, nunca mais caíram sobre outra ditadura. No entanto, parece que os portugueses têm memória curta e que não se lembram de algo que aconteceu à tão pouco tempo. Preferindo apenas celebrar um dia a menos de trabalho, sem dar valor à importância que esse dia tem.

Muitos não se levantam do sofá para ir votar 'porque não vale a pena, são todos iguais'. Parecem não saber que se pode votar em branco e que esse voto tem tanta importância como votar numa pessoa. Se todo o país se juntasse e votasse em branco, tudo teria de voltar a ser construído, pois o país Inteiro estaria a demonstrar o seu descontentamento. Se está tudo igual, é porque se deixa que assim seja. É porque existe desinteresse pela política e pela democracia que o nosso país tem. Se toda a população realmente se importasse, então aí as coisas estariam muito diferentes. Talvez seja muito complicado viver uma república no seu termo puro, como Kant ou Platão defendiam, mas podemos viver uma onde todos lutamos para que exista uma maior equidade. Onde exista interesse tanto por parte de jovens como de adultos. Nós podemos fazer algo! Tudo pode mudar, pois se não pudesse, o 25 de Abril nunca tinha acontecido, nem a Revolução Francesa! 

Pergunto-me quantos reflectem sobre a sorte que tem de viver em Portugal. Não por todas as razões que se podem listar pelas quais eu adoro o meu país, mas por vivermos num país onde temos direitos. Onde falar o que pensamos não é crime. Onde podemos vestir o que queremos, comer o que quisermos, ter acesso ao ensino e ter a sorte de conseguir um emprego. Muitos não conhecem a realidade do mundo lá fora, eu incluída. A realidade de alguns países é absolutamente terrorífica, não existindo forma de a poder imaginar, apenas vivê-la. Eles estão tão perto de nós, e nem assim valorizamos o que temos. Pensemos na Coreia do Norte, na Síria.. 'Mas isso são eles que são maluquinhos', Não. Isso são eles que não têm a sorte que nós temos. Isso são vários países onde mulheres não podem falar, nem sair da cozinha. Isso são pessoas que são escravizadas para trabalhar doze horas por dia e receber 2€ por esse trabalho. Isso são pessoas infelizes que não conhecem a liberdade. Nem existe comparação com tudo aquilo que eu e tu temos. Porque para nós chegarmos aonde chegámos, foi preciso muitas pessoas se sacrificarem. Foi preciso muitas pessoas morrerem para darem voz à liberdade que temos acesso hoje, em 2017. Não foi assim à tanto tempo, aliás a primeira mulher a votar em Portugal foi Beatriz Ângelo, em 1911, à 116 anos. Em termos históricos, 100 anos não é nada, pois já se viveu mais de 2000 anos. A primeira mulher a poder exercer o seu direito de escolha foi no século passado e para ela votar, muitas tiveram de bater o pé, desafiar a lei com custos dolorosos. E hoje, quantas mulheres não votam nem se interessam? Não nos fiquemos, como é claro, apenas pelas mulheres, os homens sempre tiveram esses mesmos direitos, mas hoje também não votam, porquê? Nada vai mudar se simplesmente se cruzar os braços.

O mundo está uma confusão, existem políticos gananciosos, existem Homens que apenas olham para o dinheiro e deixam os valores humanitários de fora. Se pensarmos bem, não existe um país que viva pelas leis simples da democracia pura. Muitos tentam, mas a humanidade tem defeitos demais para a conseguir. Hoje, o que cada um de nós tem, é um luxo. Hoje ter comida para tomar o pequeno almoço, almoço, lanche, jantar e ceia é uma realidade que para muitos há 50 anos era um sonho.  Que para muitos no outro lado do continente e no mundo, parece uma fortuna. Tivemos a sorte de nascer onde nascemos, tivemos a sorte de aos 18 anos já poder ter uma opinião e sermos ouvidos. Não me conformo que tantos jovens da minha idade não queiram saber da realidade onde vivem. Todos nós podemos ser ouvidos, todos nós temos um papel importante, nem que seja este o de apenas votar. Pois se celebramos este feriado, temos de o celebrar de maneira correta.

Neste dia tão importante que é a implementação da república em Portugal, peço sinceramente que reflictam se vale a pena ou não votar. Se vale a pena desperdiçar a voz que temos? É bom ter um feriado para descansar, é bom ter um dia para ficar em casa com a família. Mas caso não tivéssemos numa república, metade das coisas que passámos este feriado a fazer, não teríamos feito.

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