Aceitar e Seguir em Frente | D'E.V.

Mais um ano, mais um verão. Este ano finalmente fui à praia, sendo que o ano passado não tive hipótese. Foi uma experiência com muitos sentimentos que vieram ao de cima, mas essencialmente, uma aventura feliz. Este ano já vesti um bikini, ou fato de banho, umas quatro vezes (não sou alguém muito fã de praia) e pela primeira vez em muitos anos senti-me à vontade. Não hesitei em tirar a t-shirt, muito menos senti receio a tirar os calções ou a saia. Tirei e senti-me bem. Senti-me bem no corpo que tinha. Hoje enquanto escrevo este post, lembro-me das várias vezes que recusei ir à praia com os meus amigos, por ter muito peso. Relembro-me de ficar de frente do espelho, a pensar "só queria que a barriga se fosse, não me importo com a celulite" e assim que tinha feito imensos esforços para emagrecer, uns Verões depois, pedia com todas as forças para que a celulite também se fosse e que se calhar não me importava com a barriga desde que não tivesse celulite. Pensando bem, agora tudo parece uma cena retirada de um filme. Ficar de frente do espelho durante uma boa meia hora, cheia de ansiedade e medo de sair de casa em bikini. Foram tantas as vezes que fiz isto, tantas as vezes que fiquei com a garganta cortada e falta de ar. Olhando para trás, só desejava abraçar-me e dizer que não importa desde que esteja feliz; mas nesses dias, importava e muito, a minha figura e como me sentia ao lado de amigos, mais uma vez seria a amiga gorda. 

Foram várias as vezes que ouvi amigas a chatearem-se comigo, por achar que eu estava a ser tonta. Não me falavam durante dias por desistir à última da hora. Muitas vezes fui por obrigação de forma a não decepciona-las. Eu sabia que não o faziam por mal; na cabeça delas não havia mal nenhum, mas eu sentia que assim que me despisse toda a gente se iria rir de mim ou, pelas costas, comentar o quão feio o meu corpo era. Lembro-me das vezes que fui, ao final do dia, acabava por esquecer porque já me estava a divertir, mas as primeiras horas eram sempre muito sufocantes e se fosse possível vestia sempre a minha camisola. Conto isto de coração aberto; sei que não fui a única, nem serei a única a sentir-me assim. E se pudesse abraçava cada um de vós enquanto dizia que estão perfeitamente bem da forma que estão. Hoje eu sei isto. Tem sido uma viajem longa, aqueles que estão do meu lado sabem isso e partilharam momentos comigo. Eu sei que cresci, cada vez aprendo a gostar mais de mim da forma que sou.

Nestes dias também tirei fotografias, coisa que outrora nunca tinha feito, a não ser por obrigação. No entanto, mesmo quando queria partilha-las no instagram hesitei. Não queria que se visse muito das minhas ancas, ou das minhas pernas. Acabava por me sentir hipócrita, falo tanto de amor próprio e sou incapaz de partilhar uma foto do corpo que digo amar? Foi aí que me bateu que esta coisa de gostar de nós próprios não é algo que se faça com um estalar de dedos e que dure para uma vida inteira. É um sentimento que tem de se sentir todos os dias e que como tal, lutar por ele. Por isso aqui estou eu,  a partilhar fotografias de mim própria na praia. Feliz. Sem pensar se alguém está olhar para mim, ou a pensar que tenho uma barriga gigante. Sem comparar-me com qualquer pessoa do sexo feminino, e pelo contrário, saber apreciar se uma mulher tem um corpo bonito, sendo este magro ou gordo. 

O meu objectivo com este post não é apenas de mostrar a minha evolução, aliás nem chega a 40% da razão. Como tinha dito previamente, como eu, tantas mulheres sentem o mesmo. Sentem medo, receio, nojo e ansiedade com o corpo que têm. Não existe mal nenhum em querer melhora-lo, mas gostar de quem somos e do corpo que temos é uma vitória tão grande. Mais que uma vitória, é ousado. É desafiar tudo aquilo que nos foi ensinado, que nos foi dito. O nosso corpo é sempre bonito porque nos sustenta, porque nos faz viver e viver é o grande milagre. Ninguém é perfeito. Não existe corpo perfeito. Existe aquilo que os media nos dizem que é o corpo perfeito de uma mulher. Mas as mulheres vivem, comem, têm stress, são mães, é normal que o corpo mude ao longo de uma vida inteira. E sim, as modelos têm um corpo bonito mas tu também e eu também. É esse o truque. Perceber de uma vez por todas que não tem de haver um corpo perfeito mas vários tipos de corpos que são bonitos. É ter confiança quando se anda na rua e é ser feliz! A chave para todos os medos é ser feliz. 

Sei que é mais fácil falar do que fazer, mais que ninguém sei.  Todavia, é preciso dizê-lo. Cada vez mais, é preciso relembrar as mulheres e as meninas que não é preciso ter um corpo perfeito e que o verão pode significar felicidade e não medo. Independentemente do corpo que se tem, independentemente dos nossos medos, temos de ser mais fortes. Temos de sorrir ao espelho e estar feliz com aquilo que vemos. Chega de exercício em exagero porque o verão está a chegar. Chega de ficar à fome porque teremos de vestir um bikini ou entrar num vestido. Está na altura de sorrir e aceitar quem somos. É uma luta todos os dias, quando estamos rodeados deste "corpo ideal da mulher" nas redes sociais, nos livros, nos filmes e na televisão; mas quem manda na nossa cabeça somos nós, e no dia que percebermos que somos lindas/os da forma que somos, aí ninguém nos pode afectar.

Eu pelo menos quero acreditar que eu sou bonita e feliz e chegar ao final do dia com um sorriso. 

Não estás sozinha/o. Eu acredito em ti, basta começar. Não existe nenhum grande segredo, nem a que idade é que se começa a gostar daquilo que somos. Eu demorei vinte e dois anos e mesmo assim, tenho dias que nem consigo olhar-me ao espelho. Não quero ser hipócrita mais uma vez e dizer que estou sempre feliz e sem complexos. Eles ainda estão comigo todos os dias. Apenas tento arranjar formas de me relembrar que estou bem. Ou tento distrair-me. Ou desabafo. Não iremos ser sempre felizes com a nossa aparência, o mundo não é cor-de-rosa. Claro que existem sempre dias menos bons que outros mas a pessoa que é verdadeiramente feliz, é aquela que aceita e mesmo assim lembra-se a ela própria que está bem, que não tem nada que esconder e que tem de erguer a cabeça bem lá no alto. Eu digo muito às pessoas que a melhor forma de melhorar é começar. Querer mudar de atitude com ela própria. Querer aceitar-se. Assim que se começa... assim que se deseja, torna-se difícil de quebrar a mente humana de ter aquilo que verdadeiramente deseja. 

Vamos lutar por um mundo com mais amor próprio.

Yours sincerely,
Adriana

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